Texto de Eugênio Maria Gomes publicado no jornal DIÁRIO DE CARATINGA, em 23/9/17
Escrevo este texto pouco tempo após acompanhar a cerimônia fúnebre do corpo do Irmão de Ordem, Luiz Alberto Ferreira de Faria. Uma cerimônia triste, mas muito bonita e significativa, muito bem conduzida pelo venerável Alisson Martins e demais membros da Loja Maçônica Fraternidade Acadêmica de Caratinga, da qual Luiz era obreiro. O momento em que o venerável mestre fez a chamada do nome do irmão Luiz, por três vezes, sem que este pudesse responder, foi, certamente, o ápice daquela triste cerimônia em que o víamos, pela última vez.
Luiz Alberto, o Luizinho, casado com Águida e pai dos trigêmeos Luisa, Davi e Daniel, de apenas 3 anos de vida, partiu aos 35 anos de idade. Difícil entender como alguém tão jovem, com tanta responsabilidade a cumprir, com tantos caminhos a trilhar e tantos sonhos a realizar vai embora assim, sem aviso prévio, sem ao menos se despedir de sua família, de seus amigos, de seus irmãos. Um sentimento de dor, que aumenta ainda mais quando nos damos conta de que, quem partiu, era alguém querido por todos, pai amoroso, marido exemplar, homem temente a Deus, ótimo profissional e dedicado à maçonaria e aos irmãos.
O Irmão Luiz Alberto foi alguém que enxergava a vida como uma grande oportunidade de aprender, de completar-se nos demais, como bem registrou na abertura de seu texto, na condição de coautor do segundo volume da série Obreiros do Conhecimento: “A vida é uma escola. Todo e qualquer ser humano, seja homem ou mulher, independentemente de sua condição social, raça, costume, dos bens que possui, dos títulos honoríficos que ostenta, desde todo sempre, está em constante aprendizado. De tal sorte que ninguém nasce pronto, ninguém nasce sabendo tudo… É muito importante que tenhamos isso muito bem claro em nossas mentes, é absolutamente natural que admitamos não sermos detentores da verdade, pois o Supremo Arquiteto do Universo, que é Deus, nos fez de forma que nos completamos uns aos outros”.
Nosso Irmão Luiz mudou de Plano e não está mais entre nós. Somente a Fé e a Esperança podem, efetivamente, levar-nos a, se não a entender, pelo menos aceitar essa passagem. Que bom que as temos, pois precisamos acreditar em algo, já que a certeza da morte é a única garantia que temos da vida. Já nascemos predestinados à morte e não podemos imaginar que tudo possa terminar, para sempre, em lágrimas e adeus. Prefiro pensar que a “a morte é apenas o ponto final da primeira frase, do primeiro livro, de uma enorme biblioteca”, ou seja, a morte é o começo para o registro de muitas e muitas outras histórias.
Não obstante a tristeza que, todos, sentimos, o momento nos propicia uma reflexão: não sabemos quando será a nossa hora, mas temos a certeza de que ela chegará. Em Eclesiastes, Salomão registra que “É melhor ir a uma casa onde há luto do que em uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério”. Sim, o momento é de saudade e de oportunidade para cada um de nós fazermos um balanço e verificarmos como andamos tocando a vida por aqui, se não estamos nos preocupando demais com bobagens, valorizando o que não importa, deixando de viver a nossa vida para viver a dos outros, gastando energia demais para guardar coisas materiais. Devemos, o mais rápido possível, acabar com as “picuinhas”, aprender a olhar o lado bom das coisas e da vida, a viver e a conviver com os nossos pares, até porque, como bem disse o Irmão Luiz, ao terminar o seu texto, “O que nos une é muito maior do que o que nos divide, somos filhos do mesmo Pai e precisamos ter dignidade para sermos chamados de seus filhos. Que assim seja e nos ajude o Supremo Arquiteto do Universo, que é Deus!”.
Luiz foi habitar em “outras moradas”. Não somos capazes de compreender inteiramente, sem sucumbir à frieza da Biologia, ou sem nos refugiar na resignação da Teologia, todos os mistérios que envolvem a passagem para as “outras moradas”. Esse momento, no entanto, é o que nos define. A certeza da morte define a natureza humana. Mais do que nos assustar, ela deve servir para nos mostrar que a vida é uma dádiva, e que cada momento de vida é um momento especial, único e insubstituível. Devemos saboreá-lo intensamente, preenchê-lo de significado, para nós e para os que nos cercam.
Neste infindável Ciclo da Vida, onde começo e fim se sucedem num turbilhão de acontecimentos, numa sucessão infinita de idas e vindas, que muitas vezes nos atordoam, devemos agradecer a honra de termos desfrutado da companhia uns dos outros, valorizando cada momento que passamos juntos, assim, como agradeço, agora, a honra de ter compartilhado, ainda que por breve período, parte da jornada com Luiz…
Talvez esta seja, enfim, a maior lição que possamos retirar da nossa inevitável finitude, e da partida precoce de nosso irmão. Aprendermos a reconhecer e valorizar os bons momentos que a vida nos dá, antes que eles se tornem, apenas, uma lembrança…
• Eugênio Maria Gomes é professor e Pró-reitor de Administração da Unec. Membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni e presidente da AMLM- Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas. É membro do Lions Clube Caratinga Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga. É Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG, Colunista do Jornal Diário de Caratinga, diretor da Unec TV e apresentador de programas de televisão nas emissoras Super Canal TV, TV Sistec, Unec TV e TV Três Fronteiras, no Vale do Mucuri.