Texto de autoria de Eugênio Maria Gomes, publicado no jornal DIÁRIO DE CARATINGA, em 25/12/2017
Caratinga, Cidade da Itaúna, das palmeiras e das cachoeiras. Cidade dos artistas, das faculdades, dos escritores… Caratinga dos cantores! Cidade de gente bonita, altruísta, acolhedora. Cidade da Mata Atlântica, dos Muriquis… Uma Cidade de gente feliz! Sim, somos felizes nessa Cidade altaneira, festeira e solidária. Cidade de belas igrejas, das praças imponentes, do comércio pujante. Cidade da Fé e do Café. Ai de alguém, que não seja das bandas de cá, ou que tenha sido adotado por ela, dirigir más palavras à terra ou falar mal do lugar… Quem fala mal de Caratinga atira uma flecha no peito e faz o coração do sujeito bater mais forte, mais acelerado… Caratinga não tem defeito? Tudo nela parece perfeito… Contudo, por mais que o coração doa, na condição de quem vive e gosta dessa terra boa, sabemos que ela pode melhorar….
Temos um rio que está morrendo… Transformado em esgoto a céu aberto, nosso rio Caratinga está feio e malcheiroso. Lembro-me de um tempo, quando menino, que ainda era possível à molecada banhar-se em suas águas, lá pelas bandas do Posto Caratinga. A gente pegava xistosa, claro! Mas, a aparência era de uma água limpa, o rio corria sereno, com água bastante para esconder o pouco de sujeira que recebia.
Temos uma APA, uma área de Preservação Ambiental. De vez em quando, colocam fogo nela, num descaso total com o meio ambiente. Vez ou outra, surgem projetos mirabolantes para sua utilização, sempre voltados para interesses comerciais e bem despreocupados com a sua manutenção e segurança.
Temos uma bela porção da Mata Atlântica e, nela, habita um dos maiores primatas das Américas, o muriqui. No lugar, funciona um centro de pesquisa, frequentado por cientistas de várias partes do mundo. Um lugar que poucos caratinguenses conhecem, que poucos valorizam e quase ninguém ajuda a manter e cuidar, como um patrimônio natural que é. Um presente dado à Cidade pela família Abdala e que passa ao largo do conhecimento da maioria da população.
Temos uma das mais belas praças do interior de Minas, com palmeiras imperiais, ipês e pau-brasil. Uma enorme área, calçada com pedras portuguesas e com uma bela catedral. Um espaço pouco utilizado pela população da Cidade, principalmente à noite, devido à insegurança que impera no lugar.
Temos um forte comércio, que atende não apenas a Caratinga, mas a toda região. Sair às compras na Cidade exige certo sacrifício, devido às nossas calçadas e à insuficiência de estacionamento. Não temos um calçadão para passear, para espairecer no fim de tarde, não temos um shopping center, não temos uma boa praça de alimentação…
Na Cidade dos artistas, faltam palcos… Não temos, sequer, um cinema. Nossos cantores, atores, chargistas e pintores, reconhecidos Brasil afora, não têm um espaço adequado para as suas apresentações, suas exposições. A Cidade é um celeiro de escritores, poetas e amantes do livro e da leitura e o lugar carece de boas livrarias, daquelas em que você pode comprar um bom livro, tomar um café e jogar conversa fora em família ou com os amigos…
Na Cidade que é polo regional, das mais diversas áreas, falta-nos capacidade de atendimento à demanda na área da Saúde. Não obstante o grande esforço de instituições particulares e do setor público, nossa Cidade, infelizmente, ainda, costuma utilizar a ambulância como forma de cuidar de alguns casos mais complexos em saúde… Mas, sou otimista. A implantação do Hospital CASU, a ampliação da Casa de Saúde, o esforço pela revitalização do HNSA e a inauguração da UPA, associados a uma necessária Política em prol da Saúde, podem tirar Caratinga do caos que vive essa área, em todo o país.
Temos todas as condições para melhorar, cada vez mais, a nossa querida Cidade. Já temos um Batalhão da PM, uma unidade do Corpo de Bombeiros, uma delegacia regional de polícia, uma Superintendência Regional de Ensino, um Centro Universitário, várias faculdades, excelentes clubes de serviços, várias lojas maçônicas de referência no estado e no país.
Temos jornais, revistas e várias emissoras de televisão. Temos profissionais criativos; voluntários engajados nas mais diferentes causas culturais e sociais; temos filhos da terra atuando, nas mais diversas áreas, no Brasil e no mundo; temos, aqui, profissionais competentes nas áreas da Educação e da Saúde; temos uma grande empresa de transporte coletivo de passageiros; temos produtos alimentícios que podem ser encontrados nas prateleiras de todo o Brasil; temos excelentes supermercados e nossas lojas, em nada, perdem para as grandes lojas dos centros maiores. Sim, podemos encontrar produtos de qualidade e preços adequados em nosso comércio.
Temos problemas na Política e com os políticos? Mas, quem não os tem no Brasil? O bom é que, ainda, temos gente boa atuando na Política, gente honesta e do bem, preocupada com os interesses comunitários. Temos uma Justiça célere, quando comparada à média nacional, e jovens empreendedores atuando nas mais diversas áreas. O melhor: temos uma Cidade linda, potencialmente cosmopolita, habitada por um povo guerreiro, solidário e com capacidade de transformar essa terra, cada vez mais, em um ótimo lugar para se viver. O que falta em infraestrutura na Cidade, sobra em capacidade de adaptação e resolutividade de sua gente!
Enfim, reunimos, aqui, todos os elementos necessários para nos sedimentarmos como uma Cidade próspera, ordeira, bem organizada, ambientalmente equilibrada e que ofereça aos seus cidadãos uma excelente qualidade de vida. Porém, podemos também perder o rumo e descambarmos para a desordem e a violência urbanas, a degradação ambiental e o esvaziamento cultural, fenômenos que assolam diversas outras cidades Brasil afora.
A escolha do caminho a tomar, cabe a nós. Nós, os cidadãos de Caratinga, é que faremos essa escolha. Uma escolha, inicialmente individual, de reconhecer a Cidade como parte de nós mesmos, de nossa História e de nosso Futuro, e uma escolha coletiva, tomada pelo conjunto de cidadãos de bem escolher nossos governantes e de exigir deles que trabalhem pela e para a Cidade, por nós e para nós.
• Professor e escritor