Matéria publicada no DIÁRIO DE CARATINGA em 30/5/2018
O tema central desta crônica é a paralisação dos caminhoneiros, um movimento iniciado no dia 18 de maio de 2018 e que acabou colapsando vários setores do país. Vamos a alguns pontos desse importante acontecimento.
A PROFISSÃO CAMINHONEIRO – Ela normalmente era lembrada, apenas, quando reclamávamos da quantidade de caminhões nas estradas e, vez ou outra, por conta da maneira de dirigir de alguns motoristas. Acabou sendo mais conhecida – e mais valorizada – a partir do momento em que o caminhoneiro resolveu parar o seu caminhão.
A FORÇA DAS REDES SOCIAIS – O caminhoneiro utiliza, rotineiramente, o sistema de rádio para conversar com os seus colegas, para fazer contatos com as empresas etc. Dessa vez, as redes sociais fizeram o seu papel como veículo de comunicação e possibilitaram que todos os caminhoneiros parassem, praticamente, ao mesmo tempo.
A IMPORTÂNCIA E O EFEITO DA GREVE – Há muito, não ouvíamos falar em uma greve que, realmente, chamasse a nossa atenção. Essa foi diferente e mexeu com o cotidiano de todos nós, provocando o descongestionamento das ruas, a paralisação de escolas e o desabastecimento de feiras e mercados.
A EQUIPARAÇÃO DE CLASSES SOCIAIS – É como se tivéssemos vivido, por alguns dias, situação análoga àquela que vivem as pessoas na maior parte dos países com governos populistas: ficamos todos sem combustível, com acesso restrito à comida, aos remédios e ao transporte. Fomos nivelados… Por baixo, mas nivelados.
A MEXIDA NA ZONA DE CONFORTO DOS POLÍTICOS – Ainda não tínhamos visto um movimento incomodar tanto os políticos, em todas as esferas dos poderes. Que outra greve você se lembra de ter tirado senadores, deputados, governadores, ministros e o próprio presidente, de seus confortáveis ambientes, em pleno fim de semana, para ouvir reivindicações e propor acordos?
A CONSTATAÇÃO DO INDIVIDUALISMO E DO EGOÍSMO SOCIAL DO BRASILEIRO – Não obstante a operação, coordenada pelos caminhoneiros, ter em sua pauta questões que extrapolaram seus interesses, a população respondeu com “eu acho que é isso mesmo”, mas, correu para os postos de gasolina, para os supermercados e farmácias e compraram insumos em quantidades muito superiores às suas necessidades. Tem gente que comprou vários carrinhos no supermercado, de produtos que certamente irão perder a validade em seus armários, e deixou o vizinho, o amigo e até o parente sem ter nada o que adquirir.
O APRENDIZADO PELAS ENTIDADES CLASSISTAS – Professores, médicos e muitos outros profissionais precisam aprender com os caminhoneiros qual é o ponto chave que, de fato, faz com que os governantes sejam rápidos na negociação e nas propostas para o fim da greve.
A FORÇA DO TRABALHADOR AUTÔNOMO – Os sindicatos fizeram o primeiro acordo e, quando tudo parecia estar resolvido, com as grandes empresas transportadoras beneficiadas, o caminhoneiro autônomo respondeu: “quem acordou não me representa. Se o governo quiser negociar terá de ouvir as nossas reivindicações”.
A CARONA AOS PARTIDOS E AOS POLÍTICOS – Como toda greve que se preza, esta, também, cumpriu o seu papel de se tornar vitrine para partidos e candidatos, ávidos em pegar carona em um movimento legítimo, popular. A esperança é a de que o eleitor esteja mais atento aos usuais aproveitadores de suas mazelas.
O PEDIDO DE INTERVENÇÃO QUE OS MILITARES NÃO QUEREM – Em praticamente todas as imagens da manifestação, lá estava uma faixa pedindo a intervenção militar. Fala sério… Se militar quisesse tomar o poder já o teria feito, pois o que não faltam são razões mais importantes do que o preço do combustível. Assumir esse governo abacaxi têm poucos querendo e, a maioria dos que o deseja, está de olho em seu próprio umbigo. Os militares estão querendo o que todos os outros profissionais brasileiros desejam: condições dignas para exercerem suas funções. Realmente tenho dificuldade para entender o que leva uma pessoa, minimamente bem informada, a propor, nessa altura dos acontecimentos, um golpe militar no Brasil… Enfim, há gosto para tudo.
Aos caminhoneiros, os nossos parabéns e o nosso respeito. Só não esqueçam que nos finalmente, o interesse de uma categoria, por mais legítimo que seja, acaba tendo que ceder diante do interesse coletivo, mas, de fato, mostraram mesmo que o Brasil tem jeito. No entanto, é preciso cuidado para não passar do ponto. Talvez, o melhor nesse momento, seja seguir viagem.
• Eugênio Maria Gomes é Diretor da Unec TV, professor e Pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão do Centro Universitário de Caratinga. É membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni, do Lions Clube Caratinga Itaúna, do Movimento Amigos de Caratinga e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga. É o presidente da Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas e é o Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.